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As reflexões de Marcelo Ariel
Página publicada em: 28/05/2008
Dirce Lorimier Fernandes*
Como Vitor Hugo fez em "Os miseráveis", Marcelo Ariel denuncia a injustiça social que precipita o abismo que separa elites e miseráveis
Tratado dos Anjos Afogados é o título do livro de Marcelo Ariel, cuja análise não cabe em apenas uma página.  É uma obra intrigante, a partir do título e da própria capa do livro, dois elementos que eu considero sabiamente explicativas do rico cerne ou relicário onde o poeta/dramaturgo depositou as suas angústias. Não consigo apontar onde está verdadeiramente o gênio, uma vez que a verve caminha de página em página denunciando um autor que não perdeu de vista o mais ínfimo tema que cercou a sua vida.
 
Analisado por críticos renomados, quase nada mais resta a dizer sobre esta obra iniciada com um triste poema dedicado às crianças. O homem, e não um bicho, que foi surpreendido por Manuel Bandeira quando se alimentava dos restos jogados numa lata de lixo, universalizou-se e foi visto depois por Ariel como O Espantalho (página 21):
 
no meio do lixão
visão do alto
uma calça e uma camisa
São a
evocação do corpo
de um homem
sem sapatos
suas mãos
dois urubus rasgando um saco
sua cabeça
um rato
 
O poeta é despertado inicialmente pelo invólucro que alude a um corpo, trabalhando sabiamente uma metonímia como a pretender iniciar seu livro alertando sobre as coisas que o atormentam. Ao praticar um zoomorfismo comparando mãos com urubus, só lhe restava mesmo fechar o texto com a metáfora que rebaixa o homem ao nível do rato. Em tal condição, o homem lembra bichos repugnantes.
 
O Livro I, que consiste na denúncia sobre a condição a que SOCIEDADE submete uma camada da sociedade, finaliza com o poema (página 54) que revela a culminância do total desamparo, ou impotência, do poeta:
 
entre o caos de Pirandelo e o de Pasolini
invade o poema um menininho fumando crack na esquina
dentro da vida cínica
entre o caos de Afonso Henriques Neto e o caos convertido
em teatro fatal pelo menino
penso em dar um tiro de misericórdia
nos poemas
poemas são a merda da alma
e o tempo é uma lenta bala perdida, me diz o silêncio do
menino
 
Texto amargo, tem gosto de fel, não se fecha como que a alertar a sociedade para o problema sem fim.
 
Obra amparada numa rica erudição, composta por diálogos e poesias ao longo dos textos (ou Livros) I a VI.  Mas a dor ante a realidade não abandona o poeta (página 57):
 
ALICE NO PAÍS DA MARAVILHAS
Versão do Diretor
 
Estou
no Inferno?
Não,
é o Carandiru
e faltam
5 segundos para o
massacre dos 111.
 
O poeta reforça a idéia de que poesia também se faz com ingrediente ruim.
Coisa ruim também é tema de poesia. A injustiça social precipita o abismo que separa elites e miseráveis. Nisto constituiu a denúncia de Vitor Hugo em Os miseráveis, em 1862.
 
Nos livros II a VI o autor estabelece diálogos entre poetas, escritores e filósofos, sempre instigando o leitor a novas reflexões sobre a vida e a morte; sobre o desamparo dos seres humanos nesta incrível e hipócrita sociedade em busca da felicidade. Qual?
______________________
*Dirce Lorimier Fernandes é doutora em História da Cultura pela Universidade de São Paulo(USP), membro da Associação Paulista de Críticos de Artes(APCA) e autora, entre outros, de "A literatura infantil" (Ed.Loyola)  

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Autor

» Fábio Lucas

Professor, ensaísta, tradutor, crítico e teórico da literatura, lecionou em seis universidades norte-americanas, cinco universidades brasileiras e uma portuguesa. Dirigiu o Instituto Nacional do Livro em Brasília, bem como a Faculdade Paulistana de Ciências e Letras. É autor de mais de 50 obras de crítica e ciências sociais. Considerado um dos mais importantes críticos e conferencistas internacionais de literatura brasileira.

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