Página publicada em: 14/08/2025
Mauricio Salles Vasconcelos - R$80,00 (232 págs.)
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“O desejo de alteridade é, neste livro, a força impelidora. Figuras como Bianco Vasques, envolvido pelo papel de crítico teatral, encontra outras formas de vida ao abraçar uma relação com um afeto do passado – o ator Deo Palácios, que o chama por um antigo apelido, matizando ainda mais sua persona, com um sentido vivo de teatralidade." (Continue lendo o texto das orelhas, de Anderson Lucarezi)...

– Pierrô, até hoje chamo Bianco assim, mesmo sem ver você – há quanto tempo, hein?
(...)
Pierrô! Por conta do alternome e da jocosa autopersonificação de Rubens Corrêa, o Pierrô Branco do Teatro Nacional. Numa entrevista ao extinto Jornal do Brasil, Corrêa se autodefiniu assim (meio por vaidade mezzo desencanto).
Pierrô! Por conta da vida, do teatro, dessas ruas de São Paulo. – Xisto e D’Mondo sorriem com a alcunha de Bianco, renomeada por seu ex-namorado.
Desdobramentos e derivações desse tipo atravessam toda a obra, também manifestando-se, por exemplo, nas pequenas mudanças nos nomes e nos percursos de outras personagens e no fato de Cidade-Teatro intitular tanto a trama geral concebida por Mauricio Salles Vasconcelos quanto, dentro dela, um livro específico de “ficção documentada” sobre certa história das artes cênicas em São Paulo, metrópole onde alguns lugares emblemáticos – caso da Praça Roosevelt e do Edifício Copan – são palcos das encenações evocadas.
Outro dos fios dessa rede de relatos envolve uma peça inédita — mas registrada — de José Vicente (1945–2007). Escrita em 1975, À Sombra do Inferno é ficcionalizada nestas páginas e transformada em um novo trabalho dramatúrgico, derivado daquele: À Sombra de uma Peça, assinado pelo ficto Rael Iório.
Além disso, revisitam-se textos de Beckett e Qorpo-Santo, trajetórias de atores como Paulo Autran e Rubens Corrêa, bem como o legado de grupos teatrais paulistanos sobre os quais a voz autoral, por meio dos seres de linguagem que cria, se detém com um interesse misto de documentalidade e reencenação.
Em vez de priorizar a mera explanação de um enredo, cada frase deste feixe de narrativas se faz acontecimento por estar carregada de uma densidade enunciativa – uma curva, um desvio, uma descontinuidade, uma guinada, uma variação – a partir da qual outras possibilidades de existência são ensaiadas e encenadas. Postas em sequência por um vibrante senso de montagem, as sentenças têm, portanto, vida própria para fora de uma função meramente informativa acerca de uma “intriga”. Consistência e vitalismo estéticos reinventam teatro e cidade; cenografam as trilhas de uma Cidade-Teatro. Agora é tomar os papéis à mão. (Anderson Lucarezi – Texto das orelhas)
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A metrópole paulista congrega vários prismas de teatralidade. Oferece como realidade profissional e artística diferentes graus de formação e criação, numa variedade de tendências, espalhadas por seus incontáveis bairros, zonas e periferias. Cidade-Teatro localiza no Centro da megaurbe brasileira um entramado narrativo composto por atores, dramaturgos, cenógrafos, encenadores, estudiosos e aspirantes à cena. Ao mesmo tempo revisita histórias recentes de uma atividade aberta às mais amplas modulações de performatividade, apreendidas e disseminadas pelo romance de Mauricio Salles Vasconcelos.
Simultaneamente, a vida na cidade é captada por um andamento multivetorial, capaz de baralhar os interiores dos apartamentos e as manifestações mais inventivas da esfera teatral, entre as residências e os palcos muitas vezes desdobrados em espetáculos de rua. Em meio às vertentes cênicas mais experimentais trilhadas pela escrita do autor, há o traço mapeador capaz de investigar o legado de atores como Paulo Autran, Rubens Corrêa e do dramaturgo José Vicente. No caso do teatrólogo de Hoje é dia de rock, ocorre a recriação de uma de suas peças inéditas, trazendo uma série de motivos mobilizantes, essenciais à compreensão do nosso tempo. Em especial, quando se confronta diariamente com um momento desafiador, pleno de impasses e regressões, como o de agora, em que a política passa por bloqueios da ação coletiva e violentações das múltiplas formas de vida, cultura e arte. (Texto da contracapa)