Um bicho salta das palavras, derrama seus mistérios em voz sucinta, metamorfoseia-se em línguas outras, faz-se gravura e volta ao habitat, ciente do roteiro cumprido. Surge novo bicho, mais outro, outro mais... e um híbrido bestiário pós-moderno se desenha ante nossos olhos, brasileiro, internacional, repleto de signos e senhas, convidando-nos ao passeio caleidoscópico entre asas, escamas, patas e pêlos. Presos nos gradis da vida, estamos nós a vê-los, enquanto eles, livres, desfilam, desafiam e se despedem. Eles são dez. Nós, muitos, multiplicados ainda mais pelo verbo que se faz verso em versões. Eles, todavia, possuem voz e imagem. Nós, quiçá tenhamos ouvidos e olhos para percebê-los.
Eis a ordem do desfile:
Beija-flor, ainda mais delicado nas vestes do hai-kai, sabe-se metáfora e esparge sobre nós vôos desejados.
Bode, humanamente, se debruça no espelho da mitologia e se vê fauno sedutor.
O cavalo, leitor de Quintana, põe em pauta a beleza e o poeta, num jogo de vice-versa, em que uma carta outrora lida motiva verso e conversa.
Jacaré tem palavra mais longa, como o desenho de seu corpo no mapa-múndi ancestral. Mas permanece no segredo de quem sabe nadar de costas em rio que tem piranha.
» Rogerio Guarapiran
Rogerio Guarapiran nasceu em Taubaté-SP (13 de março de 1983). É dramaturgo, músico e produtor cultural. Estudou Letras na Universidade de Taubaté (UNITAU) e Linguística na Universidade de Campinas (UNICAMP). Graduando em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Iniciou no teatro amador em 1998 e fundou, junto com Renan Rovida, o grupo de teatro Pé-de-Couve e a banda Mantra, espaços onde começou a desenvolver sua autoria em teatro e música. Trabalhou como técnico em eletrônica em fábricas e empresas e como educador na rede municipal de Taubaté. (Saiba mais)
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