Editora LetraSelvagem

Editora e Livraria Letra Selvagem

Literaura Brasileira

Os melhores escritores do Brasil

Ricardo Guilherme Dicke

Romance, Poesia, Ficção

Deus de Caim

Olga Savary

Nicodemos Sena

Edivaldo de Jesus Teixeira

Marcelo Ariel

Tratado dos Anjos Afogados

LetraSelvagem Letra Selvagem

Santana Pereira

Sant´Ana Pereira

Romance

Nicodemos Sena

Invenção de Onira

A Mulher, o Homem e o Cão

A Noite é dos Pássaros

Anima Animalista - Voz de Bichos Brasileiros

A Espera do Nunca mIas (uma saga amazônica)

O Homem Deserto Sob o Sol

Romancista

Literatura Amazonense

Literatura de Qualidade

Associação Cultural Letra Selvagem

youtube
Destaque Cadastre-se e receba por e-mail (Newsletter) as novidades, lançamentos e eventos da LetraSelvagem.

Colunas

Fonte maior
Fonte menor
À sombra do cipreste
Página publicada em: 07/07/2009
Nelson Hoffmann*
Os ciprestes imaginários de Nelson Hoffmann (foto) e Menalton Braff

 
 
No ano passado, lá por julho-agosto, um dia apareceu-me, aqui em casa, o João Griebeler, querendo discutir e planejar futuras melhorias no jornal “Igaçaba”. Dentre as ideias que trazia, uma dizia-me respeito:
 
– Que tal, colocar um título genérico e fixo para seu texto da página 7?
 
Fitei-o:
 
– É fácil – eu disse. – Já tenho.
– Tem, o quê?
– O título.
– …?
 
Pisquei um olho, sorri:
 
– À Sombra do Cipreste.
 
Ele desviou os olhos para a janela, considerou um pouco, anuiu:
 
– É. Tem fundamento.
 
Pela janela, observara o cipreste que estava ali, ao canto da casa. E ele sabia  da minha paixão por ciprestes.
 
Não sei donde me vem esta. Desconfio que de velhas leituras do velho Herculano. Tem ele, parece-me, poemas que  versam  ciprestes em cemitérios.  Esguios, silenciosos, solitários. Merencórios, no dizer do poeta, talvez.
 
Quando construí esta minha casa, há mais de trinta anos, já tinha o cipreste em mente. Tão logo inaugurada, o cipreste surgiu e vingou. Hoje aí está, símbolo. Tanto que, ao prefaciar o livro de Pedro Marques dos Santos, Município de Roque Gonzales – Terra e Sangue das Missões, registrei: Um dia contei-lhe, Pedro, a gente tem que ser como um cipreste, “aquele cipreste lá de casa”, que não deita galhos. Só cresce buscando o infinito.
 
Vivo à sombra do cipreste, tenho o gosto da solidão. E a angústia do transitório. Nada mais natural que o título. Só que…
 
– A coisa complicou, Nelson – surgiu-me o João, dias depois. – Olha aqui.
 
E mostrou-me uma revista. Nela, um artigo e uma bela capa de livro, com detalhe do quadro de van Gogh, “Os Ciprestes”. O título do livro: À Sombra do Cipreste.
 
– Diacho! – pensei. – E agora?
 
O autor, Menalton Braff, eu não conhecia. Consegui o endereço e contatei. Dias depois, recebi o livro. Contos. Apresentação de Moacyr Scliar que, entre outras coisas sobre o autor, dizia coisas assim: Não tenham dúvida os leitores: estamos diante de um notável contista. Provam-no as histórias deste À Sombra do Cipreste. O que temos aqui é o conto em sua melhor expressão.
 
O conto-título é o primeiro conto do livro, de um total de dezoito. O cipreste perpassa o conto, em símbolo de infinitude e solidão: Quando me dei conta, por fim, de minha existência sobre a Terra, (…), já encontrei o cipreste erguido para as nuvens, tão fechado em seu cone escuro, tão abotoado e só, que não tive escolha e me tornei sua amiga. A história é um solilóquio de uma velha “vovó” anônima, que vem de gerações; uma vovó que vive gerações e que prognostica outras: Quando essas crianças tiverem cansado das brincadeiras de crianças, assumirão seus lugares… A todas acompanha o cipreste e sua sombra esguia.
 
Não sei quem pode ter plantado esse cipreste, confessa a velha vovó. Mas ela sabe que no ano passado, estes senhores (…), meus netos, ameaçaram derrubar o cipreste. E desconfia que, quando essas crianças tiverem cansado das brincadeiras de crianças, (…), com certeza, a sombra do cipreste terá deixado de entrar pela janela.
 
Para muitos povos, o cipreste é uma árvore sagrada. O seu verdor persistente e sua longevidade simbolizam a imortalidade. Na Antiguidade, porém, segundo Herder Lexikon, era considerado um símbolo da morte, pois que não cresce mais após ter sido cortado.
 
De qualquer forma, o cipreste é árvore que chama a atenção por seu porte esguio, severo e solitário, sempre verde e sempre em busca de mais alturas. Simbolizando a mortalidade humana ou a busca da eternidade, é sempre uma metáfora do ser.
 
Eu sou… À Sombra do Cipreste. O livro de Menalton Braff tirou-me um título, mas deu-me um Amigo. Hoje, o Menalton e eu correspondemo-nos, trocamos ideias e livros. De minha parte, tornei-me seu leitor entusiasmado.
 
Como diz o Scliar, ele é mesmo um notável contista. Provam-no as histórias deste À Sombra do Cipreste.
 
                                                    Roque Gonzales, janeiro/2000.
________________
*NELSON HOFFMAN é professor, escritor e crítico literário do Rio Grande do Sul traduzido para várias línguas; autor, entre outros, de Eu vivo só ternuras (novela) e A bofetada (romance)

Faça seu comentário, dê sua opnião!

Imprimir
Voltar
Página Inicial

Autores Selvagens

Autor

» Carlos Nejar

Poeta, romancista e ensaísta, da Academia Brasileira de Letras, um dos nomes de maior projeção dentro e fora do Brasil, aclamado pela crítica. No dizer de Antônio Houaiss: "Essa criação tão intensa, tão passional (da condição humana) busca, com homo sapiens, atingir os ápices da solidariedade humana. O que não é dado, em todos os tempos, senão a poucos - a esses em cuja normalidade há um quantum de loucura e outro tanto de santidade". Traduzido em várias línguas, tem sido estudado nas universidades do Brasil e do exterior.

Colunas e textos Selvagens

© 2008 - 2021 - Editora e Livraria Letra Selvagem - Todos os Direitos Reservados.