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Mestre + Amigo = Parente?
Página publicada em: 05/06/2009
Nelson Hoffmann*
Vida e Literatura. Literatura e Vida. E a boa lembrança do professor Sírio Possenti, da UNICAMP, e os livros com que este presenteou o cronista: "Por que (Não) Ensinar Gramática na Escola" e "Os Humores da Língua"

 
Foi lá, na casa do meu filho Diego, em Campos Novos. Um dia desses. Chimarreávamos. Dentro de casa. Fora, sibilava um ventinho com fio de navalha. Por vezes, garoava. Parecia neve chegando.
 
Por desfastio, olhávamos velhas fotografias. E outras, nem tanto. Era mais um jeito de entreter conversa, de esperar que o tempo mudasse de cara. A friagem penetrava ossos e almas.
 
Atentei numa lembrança. Franzi a testa em concentração, fitei minha nora:
 
– Sinara, deixa ver de novo aquela foto.
– Qual?
– Aquela lá, dos noivos.
 
Ela passou-me a foto.
 
– Conhece? – perguntou.
– Não sei. Acho que sim, não sei – disse eu, coçando o queixo.
 
Ela olhou:
 
– É a tia Ana.
– Não, ela não. Ele – eu corrigi. E, pensativo: – Eu conheço esse cara.
– Ah! – a Sinara sorriu. – É o marido da tia Ana.
– Só pode – concordei, ironizando. – Pelo menos, parece que estão casando. O nome?
 
A Sinara ficou um pouco indecisa, titubeou:
 
– É… deixa ver, é… tio, tio… tio Sírio!
 
A lembrança estalou:
 
– Sírio!… Sírio Pos-sen-ti!
– Isso! Tio…
 
Conheci Sírio Possenti no fim dos anos 70, no Curso de Letras, em Ijuí. Foi meu professor de Linguística e impressionou-me sempre pela clareza de exposição e segurança de conhecimentos. Sua tranquilidade e fino senso de humor transformavam os intrincados meandros linguísticos num prazeroso passeio. Os mistérios da língua viravam brincadeira. Ademais, Sírio Possenti talvez seja a pessoa de mais rápido e compreensivo entendimento que eu conheça. Explico: quando se questionava algo ou algo se explanava, Sírio, de imediato, percebia possibilidades e nuanças explícitas e implícitas, todas, numa instantânea visão global que, na maioria das vezes, o próprio falante sequer imaginava. Um Mestre.
 
Tornamo-nos amigos. Em 1978, Sírio, junto com o escritor Deonísio da Silva, veio a Roque Gonzales e proferiu palestra que foi um marco. Data de então o início do grande desenvolvimento cultural da cidade, transformando-a em “Capital Missioneira da Literatura”, da Cultura.
 
Depois, perdemo-nos de vista.
 
Agora, quando eu menos esperava, o Amigo Sírio envia-me dois livros do Mestre Sírio: Por Que (Não) Ensinar Gramática na Escola e Os Humores da Língua. Este traz  um subtítulo explicativo: "Análises Linguísticas de Piadas". Os livros vieram da UNICAMP, São Paulo, onde Possenti leciona.
 
À primeira vista, para quem não conhece Sírio Possenti e sua clareza expositiva, pode parecer que os livros sejam chatos, difíceis, técnicos. Nada disso! A leitura é gostosa, saborosa. A gente se diverte. E aprende e descobre segredos. São livros que merecem, precisam ser lidos por qualquer pessoa que tenha um mínimo de contato com a palavra e suas formas de uso. E quem não tem?
 
Comentar os livros, analisá-los? Ah!, não. Essa, não! Abalançar-me ao Mestre?!
 
Ora, ora, sou amigo do Mestre…
 
– … Sírio Possenti.
– Hã? – fiz eu.
 
Era minha nora, a Sinara. Perguntei:
 
– O que foi?
– É o tio Sírio – ela repetiu. – Sírio Possenti, marido da tia Ana.
 
Ruminei: marido da Ana, que é tia da Sinara, que é esposa do Diego, que é filho da Alaíde, que é esposa… Mestre, Amigo… Parente?!
 
Pela vidraça da janela, vi um sol medroso espiar por entre nuvens. O tempo clareava.
Remirei a foto, apontei a cara do noivo e comentei:
 
– É ele, sim. Só que está sem barba; eu o conheci barbudo.
 
O sol sumiu de novo. Que tempo! O tempo…
 
                                                          Roque Gonzales, julho/1999.
 
_____________
*NELSON HOFFMAN é professor, escritor e crítico literário do Rio Grande do Sul traduzido para várias línguas; autor, entre outros, de Eu vivo só ternuras (novela) e A bofetada (romance)

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Autores Selvagens

Autor

» Silas Corrêa Leite

Começou a escrever aos 16 anos, no jornal "O Guarani", de Itararé, no Estado de São Paulo. Autor do hino ao Itarareense e relator da ONG Transparência nas Políticas Públicas. Crê no humanismo e critica o "Brasil S/A". Vê a arte como instrumento de libertação (Manuel Bandeira); seus textos apresentam-se como um testemunho das amarguras de seu tempo de lucros globalizados e injustos e riquezas impunes de um neoliberalismo insano de privatarias e o inumano neoescravismo da terceirização.

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