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A viva carne da poesia de Olga Savary
Página publicada em: 30/10/2008
Alexandre Bonafim*
De como, em "Magma", Olga Savary conclama o cosmo à "festa da vontade" e atira o leitor "em direção ao desejo"
Intensa, febril, pulsante, a palavra de Olga Savary alucina-nos, atira-nos em direção ao desejo despido de medos e, por isso, docemente selvagem, perturbador; desejo que arrebata todas as fibras do ser e nos consome em alegre agonia, em acalanto de suspiros e ternuras.
 
Telúrica, ligada às matrizes da vida, a poesia de Olga é expressão da mais cega vontade da carne; é explosão da natureza desnuda. Eis a grandeza da poeta: dar forma, pela palavra, às pulsões vivas do corpo, aos deuses primitivos que queimam nosso âmago, que nos deixam em transe febril.
 
Por outro lado, a sabedoria da poeta reside, antes de tudo, no pleno domínio dos recursos líricos. Se a palavra arde em suas mãos, ganha corpo, sangue, é porque a poeta sabe dar a justa medida formal aos conteúdos. É o que podemos ver, por exemplo, em “Signo”, obra prima de seu famoso livro Magma:
 
A respiração de novembro e de sua véspera
(outubro) arde-me não no cérebro
nem no ombro
mas – anel de fogo – nas ancas
e nas entranhas.
Em ti eu amo os amores todos.
Eu não podia aceitar isto
mas aceito agora. A vida
não cessa, é eterno continuar.
Por mais que se queira
o ávido sangue não será saciado.
A tarde é quem está bebendo este desejo
conivente com a violência
da patada da fera amada.
E numa noite de novembro
é que fiquei pronta para a vida
ao ver o mar refletido no teu corpo
e ao meu rosto assomar todo o desastre.
 
O cosmo é conclamado à festa da vontade: o mar espelha-se no amado e, vice-versa, porque o desejo é total volúpia do inteiro universo. A bela metáfora “anel de fogo” desvela a pulsão dessa ardência superlativa, desse amor hiperbólico a conter todos os amores.
 
Magma pertence à categoria daqueles livros raros, em que quase não conseguimos encontrar um poema de vôo menor. Nesse aspecto, é obra importante, tanto tematicamente (por ser libérrimo no trato do desejo) quanto formalmente (impecável quanto ao manejo de nossa língua).
 
Em "Carne viva" os signos “cavalo” e “mar” formam um elo metafórico de grande expressividade. Cavalgar e nadar, pelas ondas do mar, desvelam a expressividade da ação corporal dos amantes, a volúpia do transe sexual. Mas a fúria desse movimento carnal vai além. O eu lírico não apenas está sob o cavalo, como também é escoiceado pelo animal, em bela hipérbole da delicada agressividade do amor físico:
 
Que é de mim sobre este cavalo em maio? Lanceando-me o abrasado flanco com o fogo de seu coice como o fervor de um jato d’água – arquiteturas ambas em fúria – este cavalo em maio é a guerra sazonada em meu corpo-recesso-de-fruta tal que tramasse nesse rio nascente a fermentação da forma absoluta, A(h) mar!
 
Em um dos poemas mais felizes do livro, intitulado “Venha a nós o vosso reino”, Olga define, com exímia precisão, a paixão, o estertor amoroso, em metáforas e imagens de grande beleza:
 
Cheios de imagens os olhos
e de silêncio os ouvidos.
Palavras: quase nada.
 
A cor do barro primitivo em tua pele,
terra-mãe, vinho de frutos, fogo, água,
em ti se nasce e em ti se morre.
 
Vais me recolhendo e recompondo
no labirinto-búzio-alto-das-coxas,
presságio de submerso jardim,
 
um ideal jardim em que me apresso
e tardo retardar a troca das marés
quando para ti me evado.
 
O que é amor senão a fome rara,
o susto no coração exposto
que com a chama ou a água devora,
 
é devorada, que desdenha a mente
por uma outra fome, vago pasto
água igual a fogo, fogo como lava?
 
Amor foi uma volta inteira de relógio mais 7 horas.
Amor: chega de gastar teu nome:
agora arde.
 
O imperativo do último verso faz toda ação do texto transcorrer para a vida. Em viva carne, em aberto pulso, o amor, em belo carpe diem, é conclamado à ação. E que a palavra, vigorosa, intensa, dessa grande poeta, leve seus leitores ao orgasmo não só do verbo, mas da vida em febre e desvario.
 
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Alexandre Bonafim é escritor e crítico literário

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