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Contos do uruguaio Leonardo Garet exibem um estranho horror psicológico
Página publicada em: 12/04/2021
Adelto Gonçalves
Escritor dos mais fecundos e exponenciais da Literatura uruguaia, poeta, ficcionista, ensaísta especializado na obra de seu conterrâneo Horácio Quiroga. A seguir, resenha do escritor e crítico brasileiro Adelto Gonçalves, publicada no jornal "Opção" (15.09.2021, Goiânia, GO).
Na linha de Horacio Quiroga (1878-1937), cujos contos geralmente tratavam de acontecimentos fantásticos e até macabros, que, por sua vez, seguiam o caminho aberto pelo poeta norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), o contista uruguaio Leonardo Garet (1949), cujos contos atraem o leitor por exalarem um estranho horror psicológico, chega, finalmente, ao público brasileiro com O livro dos suicidas (Letra Selvagem, 144 páginas, tradução de Erorci Santana), publicado pela primeira vez em 2005 pela Ediciones Cruz del Sur, de Montevidéu. Antes, só a poesia de Garet havia sido passada para o idioma português por intermédio do livro Saída de página, edição bilingue, publicado em 2001 em San’Ana do Livramento (RS), edição de MZ Thomas e Grupo Literário de Artigas.
 
A aproximação com Quiroga não é fortuita. Além de ambos terem nascido na cidade de Salto, na margem direita do Rio Uruguai, na fronteira com a Argentina, Garet sempre teve pelo conterrâneo uma indisfarçável admiração literária, que o fez cuidar da edição de vários de seus livros, além de produzir textos que foram publicados em antologias e revistas literárias.
 
Autor profícuo, com cerca de 40 títulos nas áreas do conto, da poesia e da narrativa curta, Garet dedicou especial atenção ao contista saltenho, com a publicação de Obra de Horacio Quiroga (1978), edição, Encuentro con Horacio Quiroga” (1994), ensaios, Horacio Quiroga por Uruguayos (1995), edição, Cuentos Completos de Horacio Quiroga (2002), edição, prólogo e notas, e Horacio Quiroga — Obras Completas (2010), edição, prólogo e notas, bem como preparou livros de crítica literária e antologias, como Literatura de Salto (1990), Poesia del litoral” (2007) e Colección de Escritores Salteños, 20 volumes publicados pela Intendência Municipal de Salto. A sua qualidade como especialista na obra do contista é tanta que hoje dirige o Centro Cultural Casa Horacio Quiroga, em Salto.
 
Como não poderia deixar de ser, a admiração de Garet pela obra quiroguiana é tanta que seus contos são influenciados por temas que assinalaram a vida do contista saltenho. Quiroga teve a vida marcada pelo ato do suicídio, pois ele deu cabo à própria vida, quando, aos 58 anos de idade, recebeu o diagnóstico de que padecia de um câncer gástrico e tomou uma dose de cianureto. Seguia assim os exemplos de seu pai e de seu padrasto, que também tiraram a própria vida. Além disso, depois de sua morte, três de seus filhos haveriam de se suicidar.
Esse é o tema do texto que encerra o livro e dá título à obra de Garet. E conta as venturas e desventuras de um repórter de televisão que, cansado de andar atrás de acidentes de trânsito e assassinatos ou de questiúnculas entre políticos locais, decide, por conta própria, instalar-se com sua câmera num local estratégico para filmar as pessoas que, durante a madrugada, decidiam dar cabo à própria vida num lugar chamado Pedra Alta, em Salto, à beira do Rio Uruguai e marcado por formações rochosas. A personagem que conta a sua própria história é igualmente alguém marcado pelo suicídio: de seu padrasto e de sua mulher.
 
Obviamente, o primeiro suicídio filmado em Pedra Alta fez o jornal televisivo da emissora em que o jornalista trabalhava alcançar picos de audiência, o que o levou a investir na empreitada e filmar novos suicídios. Eis o estilo de Garet: “Os velhos chegavam e se atiravam, como se viessem sonâmbulos, sem titubeios. Os jovens, a maioria adolescentes nos casos que presenciei, ficavam estáticos por um momento, a ponto de suspeitar-se que outro motivo lhes havia levado a esse lugar e a essa hora tão estranha, geralmente entre três e quatro da manhã”.
A cada dia mais famoso, o repórter começou a ganhar desafetos e concorrentes, como um que trabalhava em outra emissora e passou a liderar uma campanha contra aquela macabra iniciativa, mas valendo-se especialmente de muitas calúnias. O desfecho seria insólito: o desafeto acabaria por atentar contra a própria vida e teria o seu ato filmado pelo jornalista. Obviamente, tamanho desvario teria finalmente uma resposta das autoridades: a proibição de notícias sobre suicídio, sob a alegação de que seria contagioso. Por aqui se vê que os temas e o estilo de Garet são inconfundíveis. Como diz na apresentação da edição o romancista Ronaldo Cagiano, “o autor se exercita com tamanha habilidade numa vertente que explora o maravilhoso, o inexplicável, o sobrenatural, o sensorial e o estranho sem cair no pecado da inverossimilhança”. Mas, como diz no prefácio o professor e escritor Jorge Albistur, um dos melhores críticos literários do Uruguai, só pode acompanhar estes 25 contos de Garet “quem” é “capaz de ler o ilegível, de explorar o que não está nas palavras, o que subjaz aos silêncios”. Obviamente, não é leitura para aquela geração que vê o mundo através de uma tela.
 
Garet é contista, poeta, crítico literário, ensaísta e agitador cultural. Foi professor de 1972 a 2008, principalmente nas escolas particulares de ensino médio no Colégio e Liceu Nuestra Señora del Carmen e Colégio e Liceu Carlos Vaz Ferreira, em Salto. Além disso, foi professor do Instituto de Estudos Superiores e do Instituto de Filosofia, Ciências e Letras, em Montevidéu.
 
Filho de Julio Garet, poeta e crítico literário de muito prestígio no Uruguai, que fez conferências também na Argentina, Brasil e Peru, e de Carmen Crecionini, professora de Língua e Geografia Espanhola, Leonardo praticamente cresceu em Salto, para onde a família mudou-se em 1951, tendo morado por mais de 20 anos numa casa situada em Calafi, bairro suburbano que haveria de marcar boa parte de sua obra ficcional.
Em 1968, chegou a frequentar a Faculdade de Medicina, em Montevidéu, época em que foi um dos responsáveis pela revista “Adelante”, editada pela Associação Estudantil Saltenhos Residentes em Montevidéu, na qual publicou seus primeiros textos literários. No ano seguinte, trocou o curso de Medicina pela Faculdade de Ciências Humanas. Em 1972, porém, abandonou os estudos, mudando-se para Bella Unión, no departamento de Artigas, na fronteira com o Brasil, onde começou a trabalhar na fábrica de açúcar Calnu.
 
Em 1972, publicou seu primeiro livro de poesia, Pentalogia. No ano seguinte, mudou-se para Montevidéu, onde passou a trabalhar como professor de Literatura Uruguaia no Instituto de Estudos Superiores e de Literatura Espanhola no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras, hoje integrado à Universidade Católica.
 
Em 1974, retornou a Salto para trabalhar no Instituto Politécnico Osimani y Llerena, onde se mantém até hoje. Em 1975, participando de uma mesa de exame, conheceu a professora Maria Cristina Reyes, com quem haveria de se casar em 1977. Paralelamente ao trabalho docente, o casal dedicou-se à venda de livros, mantendo um quiosque chamado Macondo, nome da aldeia fictícia em que se movimentam as personagens do romance “Cem Anos de Solidão” (1967), do escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), Prêmio Nobel de Literatura de 1982.
Durante a ditadura civil-militar (1973 a 1985), Garet publicou os livros de poesia Primer escenario, em 1975, na Venezuela, e Máquina final, em 1978, no Uruguai. Em 1988, publicaria a obra de ficção Pájaros extranjeros. Com o fim da ditadura, Garet tornou-se o primeiro presidente da Associação de Oficiais de Educação Secundária de Salto, que ajudara a formar.
 
Membro correspondente da Academia Nacional do Uruguai desde 2008, tem obras traduzidas em diversos idiomas. Conquistou os principais prêmios literários do Uruguai, entre os quais se destaca o Primeiro Prêmio Nacional de Literatura, que ganhou em duas modalidades: a de ensaio, em 1978, e a de poesia, em 2002. Neste mesmo ano, recebeu o Prêmio da Fraternidade pela Literatura. Em 2000, o crítico Ricardo Pallares incluiu em seu livro Narradores y Poetas Contemporáneos (Montevidéu, Academia Nacional de Letras) dois capítulos sobre a obra de Garet.
Entre as obras publicadas, destacam-se ainda Cervantes (1976, ensaio), Viaje por la novela picaresca (1991, ensaio), Vicente Aleixandre (1991, ensaio), Palabra sobre palabra (1991, poesia), Los hombres del fuego (1993, narrativa), Octubre (1994, poesia), La casa del juglar (1996, narrativa), Los dias de Rogelio” (1998, narrativa), Anabákoros (1999, narrativa), Cantos y desencantos (2000, poesia), Vela de armas (2003, poesia) e 80 noches y un sueño (2004, narrativa), entre outras.
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(*) Adelto Gonçalves, crítico literário, é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo e Bocage — O Perfil Perdido.

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» António Cabrita

António Cabrita ainda é uma novidade para o público brasileiro, mas não para a crítica do Brasil, que acompanha os passos desse importante e irrequieto escritor português. Adelto Gonçalves, doutor em Literatura Portuguesa pela USP-Universidade de São Paulo, afirmou: “Este português de Almada (1959) foi para Maputo (Moçambique) há poucos anos, numa época em que raros lusos se dispõem a ir para a África e os que de lá retornaram choram até hoje o ‘império colonial derramado’. Não se arrependeu, pois encontrou material, o chamado ‘tecido da vida’, para escrever novas e surpreendentes histórias como estas que o leitor brasileiro tem a oportunidade de conhecer”. E Maurício Melo Júnior, que é escritor, crítico e apresentador do programa Leituras da TV Senado, escreveu a respeito do romance "A Maldição de Ondina", que marca a estreia de António Cabrita no Brasil: “António Cabrita traz a capacidade de domar o espírito aventureiro e conservador de Portugal. E isso é o cerne de nossa alma universal”.

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