A exploração do homem pelo homem na mítica região do Japará, criada pelo escritor baiano Cyro de Mattos (Texto publicado originalmente no jornal "Tribuna de Petrópolis", de 10 de julho de 2015)
O escritor baiano Cyro de Mattos (Itabuna, 1939) é um nome consagrado. Contista, poeta, romancista e autor de livros para crianças, participou de diversas antologias no Brasil e no exterior; recebeu diversos prêmios e pertence à Academia de Letras da Bahia.
Temos em mãos agora seu novo livro, o romance Os ventos gemedores (Taubaté, SP: LETRASELVAGEM, 2014). nas suas doze partes narra-se uma história que se passa no território fictício de Japará, sul da Bahia, onde a fúria gemedora dos ventos acentua o caráter desesperado dos personagens, envoltos na natureza bárbara do ambiente. Através deles, o autor vai revelando dramas, opressões, ambições e misérias. Entretanto, Cyro de Mattos está isento de um estilo panfletário e adota a linguagem simples das pessoas que contam casos narrados pelos ancestrais.
Na região do Japará, a mata hostil e impenetrável vai cedendo lugar às primeiras roças de cacau e campos de pecuária. A narrativa se desenvolve no conflito sustentado entre a dominação do cacaueiro Vulcano Brás, dono de grandes terras na região, e o vaqueiro Genaro, que busca uma vida livre e justa. Com isso, o leitor há de perceber o sinal do narrador dramático a mesclar magistralmente o real e o fantástico neste relato perturbador. Relato em que pulsam as violências de um homem faminto de poder, sempre a degradar outros homens indefesos contra seu egoísmo e sua impiedade.
Nesses personagens primitivos soube Cyro de Mattos criar uma dimensão interior com base na explosão dos dramas e misérias gerais. Os ventos gemedores é um belo romance que deve ser lido cuidadosamente para ser bem apreciado.
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* Fernando Py é poeta, crítico literário e tradutor; autor, entre outros, de Aurora de vidro e Vozes do Corpo