Um livro sobre três corajosas mulheres da Antiguidade, escrito por outra mulher tão destemida quanto as biografadas, conforme nos informa o cronista Manoel Hygino dos Santos (texto publicado originalmente no jornal "Hoje em Dia", 20/11/2014, Belo Horizonte)
Tem o Brasil Dilma na Presidência, assim como na Argentina, Cristina, repetindo Evita e Estelita, esposa de Perón. As mulheres não deixam por menos e assumem o poder, como aconteceu com Indira Gandhi, na Índia, e Golda Meir, em Israel. Ainda em nosso tempo, estão Angela Merkel, na Alemanha, dirigindo a poderosa nação da Europa, e Bachelet, no Chile. Elas não quiseram, ou não querem, viver à margem dos acontecimentos políticos.
Uma escritora atual tratou do tema em Rainhas da Antiguidade – Sedução e Majestade, editado pela LetraSelvagem, de Taubaté (SP), terra de onde partiu Fernão Dias Pais para a aventura bandeirante em Minas Gerais, como se aprendia em colégio.
O livro é de Dirce Lorimier Fernandes, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Depois de experiência em literatura infantil e de aprofundar-se no problema da intolerância religiosa (A Inquisição na América, 2004), ingressa em campo novo e até certo ponto pouco explorado, com “Rainhas da Antiguidade”.
São mulheres de outros tempos que, como as do presente, decidiram desafiar o sistema controlado pelos homens.
Assim, aparecem a rainha Elisa, musa de Virgílio e que imperou no norte da África; Cleópatra, rainha do Nilo, e Zenóbia, rainha do Deserto. Da segunda, muito se soube, amante dos imperadores romanos César e Marco Antônio, inspiradora de criações históricas de Shakespeare, revivida em filmes de Hollywood; e a terceira, pujante figura, no dizer da autora, que se celebrizou ao ser derrotada por Aureliano.
Dirce resume: “A antiguidade assinala em Elisa, Cleópatra e Zenóbia uma tríade de poderosas rainhas, cujo status foi adquirido em circunstâncias análogas, pois as mulheres das classes sociais elevadas sempre mantiveram os seus privilégios; eram regentes e reinavam na ausência dos maridos”, como aliás observou Maria do Sameiro Barroso, em A glória das mulheres de cabelos ondulados – Algumas reflexões sobre a história das mulheres na Antiguidade.
O sexo feminino se impôs no campo político, econômico, administrativo, no exercício do jogo perigoso do poder. Mais recentemente, a ascensão se deveu à possibilidade democrática, antes restrita aos homens, mas abrindo acesso da mulher ao comando das nações.
Dirce Lorimier propõe “evidenciar a trajetória de algumas personagens que atuaram em diferentes sociedades que fornecem elementos para se compreender o quadro cultural que envolvia o papel feminino, muitas vezes depreciado em função da subjugação masculina”, sendo raras as civilizações antigas em que a mulher alcançou posições sociais importantes.
Lembre-se, com a autora: “A marcante hierarquia masculina era plenamente aceita na sociedade, sendo o homem possuidor tanto de sua mulher como de sua descendência e de seus criados”.
No tempo antigo, as três focalizadas souberam contrapor-se aos costumes e venceram a luta, usando – como a egípcia – a sedução. Elisa, Cleópatra e Zenóbia se apoderaram do trono pela sucessão de fatos políticos, “tornando-se afinal mito”. Bom tempo para evocar as personagens célebres e comparar tempos e situações.
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Manoel Hygino dos Santos é escritor, membro da Academia Mineira de Letras