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Críticas

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Maviosas crônicas poéticas de Clauder Arcanjo
Página publicada em: 10/11/2014
Silas Corrêa Leite
Livro que, segundo Silas Corrêa Leite, "Fala de anjos. De céus. Fala de viagens e despedidas. Fala de gritos, de silêncios, de garis, essa gente brasileirinha quase invisível. Crônicas de coisas que ao serem lidas, curtidas, saboreadas – “frutadas” – parecem que aconteceram com a gente num “já-hoje”, ou fazem que nos sintamos páginas do livro, como páginas de rostos, acontecências e captações de lágrimas, silhuetas, perfis e estados de espírito. Tá servido?". Confira a resenha a seguir.
“Quem conhece Deus
sente as coisas interiores
e é amigo dos morangos
que nunca morrem...”
 
(Henrique do Valle)
 
 
Faz algum tempo e tive a oportunidade de comentar sobre o livro Licânia (2007) do autor: “As historias não são nossas (...) São daquele que fez o caminho no caminhar” (pág. 52, “Pó do Chinelo”). A vida tem as tintas, tem os remorsos, mós e pós do tempo (...) Os contos te tocam com leveza, acenam, despacham-se e lá se vão, leitura a fora, revelações a dentro, mais a imaginação do leitor que também pesa ao assumir de per-si o que lê e alumbra em sua mente envolvida. E me fizeram evocar o retratista de meu tempo de criança, lá na minha aldeia-mãe de criação, na linha do tempo pitoresca, o lambe-lambe capturando as entranhas da alma das coisas, das pessoas e paisagens, de sombras e penumbras delas, da cidade entregue ao deus-dará, de seus pretos e brancos, pretos e prantos, escombros e ramificações humanizadas de (...). Clauder Arcanjo é um retratista das palavras. Coloca em sépia alguns momentos, figurando-os, com ternura e leveza. Mas sempre mantém o norte da mão em seu caudal criativo, somando fatos imaginários, suas construções arejadas, arquitetura de palavreiros, feito assim ainda um recolhedor de pertencimentos de seu tempo, sua época, com seu olhar ora irônico, ora cheio de humor, mas num delineamento que enserena verbos, tópicos e finais. A baunilha dos parágrafos”.
 
Sem conhecê-lo pessoalmente, depois perdendo o contato com ele, mesmo que via internet (e-mail) vêm-me às mãos, sete anos depois, o novo livro do autor, Uma garça no asfalto, bancado pela LetraSelvagem (Taubaté-SP). De cara (na contracapa do livro), já se apresenta e se emoldura uma das melhores crônicas do conjunto, a que dá título à obra como um todo. No livro em si, a primeira crônica de uma quase antologia delas, já toca, emociona, consagra o escritor, a partir da releitura ‘presencial’ do poema “Para Sempre”, de Carlos Drummond de Andrade, assim revisitado então em gostosa prosa poética. Um doce.
 
Breves vertentes de textos saborosos dedicados ao amor, aos amigos, às mães, ao pai, à morte, a momentos da vida retratados com capricho e um enfoque sereno. O cotidiano, a rotina, somas que em contações evidenciam o talento do autor nas narrativas, e também sua peculiar graceza nos assentos em palavras a verterem seu olhar sobre pertencimentos, desdobramentos, alumbramentos, e vislumbres cênicos de paisagens, passagens, veredas. Crônicas como bons-bocados.
 
São crônicas-cocadas? Algumas cocadas de Clauder Arcanjo saboreamos com os olhos acesos na “leção”, numa leitura que evoca o lado sensível do ser, feito verdadeiras jujubas de guloseimas letrais, com suas rememorações, lembranças, afetos de açúcares literais do dia a dia, feito recolhes, a  registros peculiares de encanto, saudade e dor. Engenheiro, o escritor muito bem arquiteta suas crônicas com veios de linhagens fortes, como se erguendo paredes lavradas de arte. Escreve como se erguesse nuvens no céu de si?
 
Datas sabidas, estados de espírito, melancolias... Natal, carnaval, teatro, e ainda temos bucólicas redações sobre chuva, coelho, urso, além de tipos como vagabundos, ausentes, mortos, poetas, vendedores de cocadas. E lá vem ele soltando o verbo: “Escrevo pelo simples fato de gostar de contar histórias e, dentro delas, transmitir mensagens. Elas nasciam... sei lá, não sei como elas nasciam (...). Elas surgiam, invadiam meu peito, meu cérebro e só deixavam em paz quando eu as materializava, escrevendo-as.” (pg. 73, “Escritores Infelizes”).
 
A Garça e a graça de. Argamassa de construção literária. O voo-pássaro da palavra, e a narrativa que expõe uma cena, um quadro, um prisma recolhido com seu “olhar de sentir”, e, claro, com açúcar e com afeto. Esse é o jeito criativo, sensível, produtivo (recolhedor) de Clauder Arcanjo. Pescador de afeto escondido em tijolinhos de sentições? “Com açúcar/Com afeto...” cantou Chico Buarque. Com açúcar no asfalto, trocadilhando, captamos via Clauder Arcanjo os instantes-travos, os fotogramas em preto e branco, as retratezas dos cardumes da vida, a tristice captada, a escurez revelada, o momento mínimo sendo engradecido pela chiqueza de sua arquitetura literária. Um plantador de escritas, entre sombras, ciganos, milagres, canteiros, palhaços, luas, estrelas, tributos, risos. Quando o lemos, seduzidos, viajamos na batatinha, na maionese, no shoio, no tatami voador das ideias evocadas.
 
Fala de anjos. De céus. Fala de viagens e despedidas. Fala de gritos, de silêncios, de garis, essa gente brasileirinha quase invisível. Crônicas de coisas que ao serem lidas, curtidas, saboreadas – “frutadas” – parecem que aconteceram com a gente num “já-hoje”, ou fazem que nos sintamos páginas do livro, como páginas de rostos, acontecências e captações de lágrimas, silhuetas, perfis e estados de espírito. Tá servido?
 
O livro é uma graça, sem trocadilho, claro. E essas garças-páginas pairam sobre nós como confeitos de sentir, resgates de sentir, colcha de retalhos da vida que bebemos, comemos, amamos e adoramos quando evocadas assim, banquete de palavras com garça/graça. As tais “vidas mínimas” de seres “invisíveis” nos tocam, seduzem, e emergem frente aos nossos olhos ressentidos, ressecados, cheios de asfalto de insensibilidades que sabem que a rotina cotidiana é osso duro de ruir, mas uma arte como essa nos mantém de alguma forma vivos, atiçados, pela leitura prazerosa de textos que nos tocam, e assim tocam o (que ainda há de) humano em nós...
 
*Silas Corrêa Leite é escritor e professor; autor, entre outros, de Porta-Lapsos

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» Silas Corrêa Leite

Começou a escrever aos 16 anos, no jornal "O Guarani", de Itararé, no Estado de São Paulo. Autor do hino ao Itarareense e relator da ONG Transparência nas Políticas Públicas. Crê no humanismo e critica o "Brasil S/A". Vê a arte como instrumento de libertação (Manuel Bandeira); seus textos apresentam-se como um testemunho das amarguras de seu tempo de lucros globalizados e injustos e riquezas impunes de um neoliberalismo insano de privatarias e o inumano neoescravismo da terceirização.

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