Editora LetraSelvagem

Editora e Livraria Letra Selvagem

Literaura Brasileira

Os melhores escritores do Brasil

Ricardo Guilherme Dicke

Romance, Poesia, Ficção

Deus de Caim

Olga Savary

Nicodemos Sena

Edivaldo de Jesus Teixeira

Marcelo Ariel

Tratado dos Anjos Afogados

LetraSelvagem Letra Selvagem

Santana Pereira

Sant´Ana Pereira

Romance

Nicodemos Sena

Invenção de Onira

A Mulher, o Homem e o Cão

A Noite é dos Pássaros

Anima Animalista - Voz de Bichos Brasileiros

A Espera do Nunca mIas (uma saga amazônica)

O Homem Deserto Sob o Sol

Romancista

Literatura Amazonense

Literatura de Qualidade

Associação Cultural Letra Selvagem

youtube
Destaque Cadastre-se e receba por e-mail (Newsletter) as novidades, lançamentos e eventos da LetraSelvagem.

Críticas

Fonte maior
Fonte menor
Lutas de ontem e de hoje
Página publicada em: 23/03/2013
Ariosto da Silveira
Relembranças de Canudos e de como os "degenerados filhos da mestiçagem" passaram a ser vistos como injustiçados heróis. (Texto publicado originalmente no jornal "O Tempo", Belo Horizonte)
Em seu mais recente livro, Peregrinações amazônicas, o acadêmico mineiro Fábio Lucas, um dos mais respeitados críticos literários do país, aborda a obra maior de Euclides da Cunha, Os sertões, que versa sobre a campanha de Canudos, no fim do século XIX. Anota, entre muitos aspectos, a diferença apontada pelo escritor entre o homem do litoral e o do sertão, a partir de suas observações como agregado às tropas governistas deslocadas para combate ao núcleo rebelde.
 
De início, Euclides compartilha a ideia de estar Antônio Conselheiro "e seu grupo infeliz vitimados por um sistema de produção latinfundiário e patriarcal", a serviço da Monarquia, há pouco destituída do poder pela República (1889). Nos despachos, o correspondente da "Província de São Paulo" (o "O Estado de São Paulo" de hoje) qualifica Conselheiro de agitador sertanejo e os que o combatiam - ele assistia em Salvador ao seu desembarque, destroçados pela batalha - como heróis aos quais ainda caberia a vitória.
 
Naquela posição, distante do centro da luta, Euclides opina que o Conselheiro "insurgia-se desde muito, atrevidamente, contra a nova ordem política e pisara, impune, sobre as cinzas dos editais das câmaras das cidades que invadira".
 
Mas - observa com aguda percepção o crítico Fábio Lucas -, ao transportar-se para o cenário de lutas nos confins do nordeste baiano, o escritor, "em páginas de estilo fulgurante", exalta os filhos da mestiçagem que sua ciência indicava ser causa de degeneração e amesquinhamento do ser humano e passa a demonstrar afeição aos fatos. Essa mudança fica demonstrada nas descrições pormenorizadas das sucessivas arremetidas das forças governistas, quando, em clara inferioridade de número e armamentos, os seguidores do Conselheiro lutam, com coragem e valentia, até o seu extermínio.
 
Essa referência à obra e ao massacre de Canudos ocorre num momento em que outro conflito, o da vizinha Colômbia, caminha para um fim diferente. Em vez das armas, tenta-se o acordo entre as partes conflitantes. Ao contrário do calor da mata amazônica, as negociações se desenvolvem na fria e distante Noruega.
 
Mas, enquanto o Conselheiro teve o seu conceito de degenerado revisto por Euclides da Cunha, outro escritor, não menos notável, retratou a guerrilha da Colômbia pelo seu ângulo menos honroso, o do sequestro como modo de ação. Neste caso, a narrativa é de Gabriel García Márquez, colombiano, prêmio Nobel de Literatura de 1982. Em Notícia de um sequestro (1996), relata as horas dramáticas de um grupo de sequestrados. Contar essa história, para Márquez, visou a que o drama bestial não caísse no esquecimento. "Por desgraça, é só um episódio do holocausto bíblico em que a Colômbia se consome faz mais de 20 anos".
 
Recordar tais fatos, como faz Fábio Lucas em relação a Canudos por Euclides da Cunha, contribui para compreender melhor certos acontecimentos de hoje e sua projeção para o futuro. É a história que não pode se perder.
 
_________________________
* Ariosto da Silveira, jornalista

Faça seu comentário, dê sua opnião!

Imprimir
Voltar
Página Inicial

Autores Selvagens

Autor

» Nelly Novaes Coelho

Nelly Novaes Coelho nasceu na capital de São Paulo, em 17 de maio de 1922, pouco depois da Semana de Arte Moderna. Em 1960, inicia a carreira de docente universitária, como professora-assistente do Prof. Antônio Soares Amora, área de Literatura Portuguesa. Em 1961, acumula esse cargo com o de professora titular de Teoria da Literatura, na Faculdade de Letras de Marília (onde lecionava nos fi ns de semana). Segue a carreira universitária: doutora em Letras (USP, 1967), livre docência (USP, 1977). Professora-adjunta (USP, 1981) e professora titular de Literatura Portuguesa (USP, 1985). Nesse período, inicia-se como crítica e ensaísta literária, colaborando no Suplemento Literário de “O Estado de São Paulo”. Especializa-se em Literatura Contemporânea (portuguesa e brasileira). No decorrer de sua carreira acadêmica, entrega-se à docência e à crítica, publicando em jornais e revistas do Brasil e do exterior. É reconhecidamente uma das mais importantes críticas literárias e conferencistas de literatura brasileira e portuguesa no Brasil.

Colunas e textos Selvagens

© 2008 - 2021 - Editora e Livraria Letra Selvagem - Todos os Direitos Reservados.