De como um dos mais conceituados críticos literários brasileiros, o mineiro Fábio Lucas, empreendeu a sua "peregrinação" através da obra dos principais escritores da Amazônia e daqueles outros escritores, como Euclides da Cunha, que se aventuraram a enfrentar a latifoliada monumentalidade da planície amazônica. (Texto publicado originalmente no jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte-MG, 04/05/2012)
Um autor de bons livros, amplamente elogiado pela crítica e conceituado entre os leitores, decidiu abraçar a indústria editorial. Não é novidade, pois - aqui e alhures - o fenômeno se repete. É o caso de Monteiro Lobato, que foi escritor e publicador de obras simultaneamente.
Agora me refiro a Nicodemos Sena, a quem se devem recentes edições de autores novos e desconhecidos, do Brasil e de Portugal, como António Cabrita, português que vive em Moçambique, e do veterano e prestigioso Hernâni Donato, paulista cujo Selva Trágica apareceu novamente nas livrarias. São volumes de ficção que merecem ser lidos.
A sair, Diário de médico louco, de Edson Amâncio, neuropsiquiatra mineiro residente em Santos, ficcionista, e Peregrinações Amazônicas - História, Mitologia, Literatura, ensaios, do também mineiro Fábio Lucas, que se inclui entre os mais conceituados autores contemporâneos.
A Amazônia é fonte inesgotável para a literatura em geral, para a história e a ficção, a cuja leitura me acostumei desde o tempo em que Raimundo Moraes se dedicava a descrever a imensa riqueza regional, hoje sequer restrita às brigas pela construção - ou não - da hidrelétrica de Belo Monte. Assim será ao longo do tempo, porque ali tudo é inesgotável, imenso e misterioso.
Desde Descobrimento do Rio Amazonas, de Carvajal, Rojas e Acunã, uma infinidade de obras já se escreveram sobre a portentosa região brasileira, objeto de desejo, de ciúme e de despeito das nações poderosas. Marcos Carneiro de Mendonça não escapou ao fascínio do tema, tendo legado A Amazônia na Era Pombalina, enquanto José Veríssimo focalizou As Populações Indígenas e Mestiças da Amazônia.
Em 1968, José Alípio Goulart me enviava seu O Regatão Mascate fluvial da Amazônia, que ajuda a conhecer aquele pedaço de Brasil e esse tipo de conquistador da terra.
Sobre autores do Norte, já escreveu Fábio Lucas em mais de uma oportunidade. A mais recente foi sobre Benedicto Monteiro, paraense, falecido em 2008, a que se deve A Poesia do Texto, Belém, Cejup, 1998, em que o autor "navega abertamente nas altas esferas da produção literária". Pois, Benedicto Monteiro, tão pouco divulgado, é exemplo de um renascimento especial, ao coletar poemas nos textos da Dalcídio Jurandir, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha, este tão relacionado com a Amazônia e não restrito à tragédia no Nordeste, que o imortalizou em Os Sertões.
Com o seu novo livro, fixando-se nas peregrinações amazônicas, há muito a esperar de Fábio Lucas, ao incluir nos seus ensaios história, mitologia e literatura de uma região que extravasa os limites de nosso território. Da poesia de Benedicto Monteiro, já falou Fábio em outra oportunidade, bem como a de outros autores que inspiraram o escritor do Norte. Agora, com a nova obra, ingressa o acadêmico mineiro de corpo fechado nos mistérios amazônicos, numa paisagem diversificada. Com gentes de múltipla procedência, tentando-se construir, em pleno mundo tropical, indiferente às reações do meio físico, da natureza exuberante, contraditória e até hostil, uma nação poderosa.
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*Manoel Hygino dos Santos é escritor, crítico e membro da Academia Mineira de Letras