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"Deus de Caim", Ricardo Guilherme Dicke
Página publicada em: 11/12/2010
Luis Avelima
"Um alento, um sopro curativo, revigorante" - assim é, segundo Luis Avelima, a escritura indomável de Ricardo Guilher Dicke, um dos mais vigorosos escritores brasileiros, elogiado por gente como João Guimarães Rosa, Jorge Amado e Antonio Olinto, mas quase completamente desconhecido do grande público brasileiro.
Há que render elogios rasgados a um escritor que vê na boa literatura uma forma, ainda, de salvar o mundo. Nicodemos Sena não é somente um bom escritor, mas tomou para si a incumbência de rastrear a boa literatura e, o que é difícil, sem se submeter a qualquer apoio de ordem governamental. Criou a editora LetraSelvagem e com ela começa a mostrar um panorama literário do mais alto nível, reunindo autores como Olga Savary, Sant'Ana Pereira, Caio Porfírio Carneiro, Marcelo Ariel, o excelente poeta Edvaldo de Jesus Teixeira e Ricardo Guilherme Dicke.
 
Todos aqueles que leem a obra de Guilherme Dicke não economizam palavras para falar de suas qualidades literárias, da carga semântica que há num escritor que viveu a amargura do ostracismo, algo que, embora estranho, parece tão “natural” em se tratando de um país chamado Brasil, que pouco zela por sua memória e que apenas se “liga” naquilo que chamamos de imediatismo, naquilo que vira moda e certamente não ficará nos anais da arte de escrever. Sim, a mídia divulga agora o que amanhã não mais interessa e resta a nós, que ainda nos importamos com a literatura, revirar mundos e fundos para dizer dos que resistem e insistem em escrever.
 
Acaso fizermos uma relação de autores de qualidade que foram esquecidos, teremos que preparar um lençol e deixar do lado um balde, porque só nos resta chorar: Samuel Rawet, autor de Contos do Imigrante, que morreu solitário, em 1984, na cidade satélite de Sobradinho, perto de Brasília, e que, pese sua loucura, sua mania anti-semita, não poderia ter sido tão amordaçado;  Maura Lopes Cansado, autora de Hospício é Deus e O sofredor do ver, que amargou as agruras dos hospícios da vida; Salim Miguel, autor de Nu na escuridão, que poderia ser melhor observado, continua lá pelos lados de Santa Catarina sem que se saiba do peso de sua obra.
 
Enquanto isso, autores de obra irregular vão sendo estudados, apresentados como supra-sumo, encastelados. Um monte de fedelhos querendo ser escritores.
 
E por que seria diferente com Dicke, que transferiu-se do Rio de Janeiro para seu Mato Grosso natal, publicando de forma independente (os dois romances O salário dos poetasRio abaixo dos vaqueiros)?
 
Como surge Ricardo Guilherme Dicke no cenário literário nacional?
 
A história todos sabem: em 1967, o prêmio Walmap - que fora idealizado em 1964 pelo banqueiro José Luiz de Magalhães Lins e o escritor Antonio Olinto - premiou esse escritor fabuloso, ao lado de Oswaldo França Júnior, com uma obra que satisfazia em cheio o objetivo do certame, que era descobrir obras acima do chamado nível comum.
 
Deus de Caim, a obra de Dicke, foi recebida com entusiasmo. Era mesmo diferente. Na linguagem de aparente simplicidade, na elegância sutil de personagens que nada tinham de provincianas. Naquele ano havia sido lançado Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez que em duas semanas vendera 8000 exemplares, que também se alicerçava em laços de família e suas previsões de um fim anunciado; o Brasil perdia Guimarães Rosa e deixava de ser República dos Estados Unidos do Brasil para se tornar República Federativa do Brasil; acontecia a Guerrilha de Caparaó, era mesmo o ano da Psicodélia.
 
Essa acolhida, portanto, refletia o momento. E esse momento está no livro de Dicke: tempo de desencanto por um país que não era mais um mundão de porteiras abertas; de um sertão que não era mais sertão, tempo em que a arte vertia lágrimas de dilemas, e onde sexo e morte não se estranham, não se fronteirizam. Naquelas páginas o mito bíblico homicida, fatricida, reaparece nas figuras dos gêmeos Jônatas e Lázaro, contaminados pela inveja, pelo amor/desamor, que gera situações conflituosas. É o mito de Caim e Abel, que por sua vez é uma reinterpretação do mito babilônico de Dumizi e Emkidu, no qual o ciúme é o propulsor dos conflitos entre os povos sedentários (agricultores) e nômades (pastores).
 
O livro é inteiramente varado por frases elegantes, estonteantes mas peca muitas vezes pelo que podemos intuir como exageros narrativos, citações constantes. Claro que não fogem do contexto, mas acabam por quebrar o ritmo da leitura. Creio que é o pecado de parte importante de escritores quando começam a demonstrar erudição. Mas Dicke está perdoado, deve ser perdoado, porque no fundo, no fundo, nada disso que falo é importante, nada disso pode comprometer a sua escrita que é um alento, um sopro curativo, revigorante.
 
E já que a LetraSelvagem teve a ousadia – que coisa magnífica! – de trazer a público essa obra monumental de Dicke, esperemos que nos traga dele tudo aquilo que nos foi negado, ou seja, as obras que ficaram no esquecimento.
 
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Luis Avelima é poeta, escritor, tradutor e jornalista paraibano radicado em São Paulo; autor, entre outros, de Aos trancos e barrancos (1969) e "Cantos de Marear" (poesia, no prelo)  

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