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Ricardo Guilherme Dicke: autêntica revelação da nossa literatura
Página publicada em: 10/08/2010
Leo Gilson Ribeiro
"Deus de Caim", romance de estreia de Ricardo Guilherme Dicke, além de ter sido um dos ganhadores do Prêmio Nacional WALMAP de Literatura (1967), mereceu de imediato veemente aplauso da melhor crítica, como se pode comprovar no artigo a seguir transcrito, publicado no "Jornal da Tarde", 27/08/1968, SP.
No ano passado, depois que o escritor Guimarães Rosa aceitou ser membro do júri do Prêmio WALMAP (completado por Antônio Olinto e Jorge Amado), uma verdadeira febre de consagração tomou conta dos participantes. Parecia que todas as pessoas que tinham ou não enviado romances para a comissão julgadora apressavam-se em afirmar que “Guimarães Rosa, pessoalmente, destacou o valor do meu livro”.
 
Ora, tendo morrido no ano passado o esplêndido novelista de Grande Sertão: Veredas, é impossível verificar a autenticidade dessas revelações póstumas. Porque Guimarães Rosa, embora contemporizando por bondade com a mediocridade que lhe batia à porta, nunca fizera um elogio imerecido. Nem tivera tempo sequer para, nos últimos meses de sua vida, “consagrar” tantas dezenas de gênios auto-ungidos e que aumentaram logo que se soube que ele era da comissão julgadora... e já estava morto.
 
Por isso surpreende que um autor que não fez alarde do seu talento tenha sido classificado no último Prêmio WALMAP. Ele não espalhou por todos os suplementos literários e resenhas de livros – às vezes sub-repticiamente – elogios que colocavam sua grandeza a partir de Hemingway e John dos Passos, modestamente deixando de incluir Dante, Shakespeare e Homero. Com o vigor de tudo que é irreprimível porque verdadeiro, Deus de Caim surge como uma das autênticas revelações do romance brasileiro atual.
 
Já a origem geográfica do autor – Mato Grosso – indica a ocupação de um território cultural relativamente virgem no Brasil. Ricardo Guilherme Dicke, sim, merece crédito ao afirmar ter recebido de Guimarães Rosa o estímulo para prosseguir. Pois sua primeira incursão nesse gênero complexo traz uma revolução significativa para uma escola que meramente fotografava uma realidade social – como grande parte do ciclo de romances do Nordeste – até o aparecimento do inimitável regionalismo universalista do próprio Guimarães Rosa.
 
Já o início deste relato, que se deriva do mundo angustiado de Kafka e da intensidade de sentimentos que reflete o estilo de um Céline, tipifica claramente sua força e sua maturidade:
 
“Na rede Lázaro. Zumbidos. O irmão morto na rede. O mundo rodeando sua roda indiferente. As moscas voavam lentas e pousavam na cara dele. Não se importava. Lázaro morto. Narinas paradas. Todos os telégrafos diziam: Lázaro morreu e vai ser enterrado. Para sempre. Antigamente, diziam, havia a ressurreição. Agora não. Agora a sombra que abandona este reino de sombras caminha para sempre só, num outro reino de sombras ainda mais solitárias. Só, como um rei perdido. Só, sem reinado, na essência redonda da morte”.
 
Os personagens bíblicos – Caim, o primeiro assassino, Abel, a primeira vítima, Lázaro, o que ressurgiu das mãos do Cristo para a vida – misturam-se a um contexto caótico, de Bach e de erotismo, de filosofia de gozo da vida e de morte na vasta solidão do pantanal mato-grossense. Em meio ao incêndio que consome os protagonistas deste Inferno remotamente relacionado com o Sul de Faulkner, as taras, o vício, a violência igualam a violência da palavra, a explosão de um estilo em troca de uma absoluta expressão, como nos quadros expressionistas alemães do início deste século.
 
Deus de Caim não é um atalho novo ou uma nova clareira no romance brasileiro. É uma erupção viva, é uma chaga aberta, é um grito de vitalidade do que existe de mais contemporâneo na literatura brasileira: a que se integra nas renovações artísticas de seu tempo e indica uma segura individualidade pioneira.    
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*Leo Gilson Ribeiro, falecido em 2007, foi um dos grandes críticos de literatura, com sólida formação acadêmica, a pontificar, também, há várias décadas, na imprensa cultural brasileira

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Autor

» Silas Corrêa Leite

Começou a escrever aos 16 anos, no jornal "O Guarani", de Itararé, no Estado de São Paulo. Autor do hino ao Itarareense e relator da ONG Transparência nas Políticas Públicas. Crê no humanismo e critica o "Brasil S/A". Vê a arte como instrumento de libertação (Manuel Bandeira); seus textos apresentam-se como um testemunho das amarguras de seu tempo de lucros globalizados e injustos e riquezas impunes de um neoliberalismo insano de privatarias e o inumano neoescravismo da terceirização.

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