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No coração de Pasmoso
Página publicada em: 25/03/2010
Carlos Herculano Lopes
Reedição de "Deus de Caim", romance de Ricardo Guilherme Dicke, pode ajudar na retomada da obra de escritor de alto nível hoje praticamente esquecido (Resenha publicada no caderno Pensar, do jornal "Estado de Minas" (6/2/2010)
Um dos autores mais injustiçados do país, o cearense Moreira Campos dizia, com conhecimento de causa, que publicar livro na província é o mesmo que jogar pedra em poço sem fundo. Nunca mais será vista.
Talvez seja por isso que quase ninguém no Brasil sabe quem foi o escritor Ricardo Guilherme Dicke, que, mesmo que não tenha lançado toda a sua obra no Mato Grosso, onde nasceu, voltou para lá, depois de viver um tempo no Rio, e caiu no esquecimento. Boa oportunidade para conhecê-lo surge agora, quando um dos seus melhores romances, Deus de Caim, acaba de ser reeditado pela Editora Letra Selvagem, por iniciativa do escritor e editor Nicodemos Sena.
 
Com Deus de Caim, que marcou sua estreia na literatura, Ricardo Guilherme Dicke, em 1967, conseguiu certa notoriedade, além de excelente reconhecimento crítico, ao ser um dos ganhadores do então respeitado Prêmio Walmap. O júri era composto por ninguém menos que Guimarães Rosa, Jorge Amado e Antônio Olinto. O mineiro do Serro Oswaldo França Júnior, com o romance Jorge, um brasileiro, foi o grande vencedor. O livro, hoje, é considerado um clássico da literatura brasileira contemporânea, enquanto Deus de Caim ficou no limbo.
 
Nos idos dos anos 1960, Ricardo Guilherme Dicke vivia no Rio de Janeiro, onde trabalhava como repórter. Ele era também artista plástico e filósofo, e sua iniciação na literatura havia se dado com Caminhos de sol e lua, ainda no Mato Grosso. Nascido numa fazenda em Chapada dos Guimarães, no interior do estado, onde passou a infância, Dicke era filho de pai alemão, que fugiu para o Paraguai durante a Segunda Guerra e depois veio para o Brasil. Logo depois da publicação de Deus de Caim, em 1968, o escritor resolveu voltar para Cuiabá, onde continuou escrevendo, pintando seus quadros e trabalhando em jornais. O romance teria uma segunda edição, sem repercussão, em 2006. Ao morrer em 2008, aos 72 anos, ele havia deixado uma obra ao mesmo tempo respeitada e ignorada. Havia jogado pedra em poço sem fundo ao tomarao voltar para o Mato Grosso.
 
Entre seus livros estão Caieira, Madona dos páramos, A chave do abismo, Último horizonte. Pelo que parece, deixou muita coisa inédita, hoje sob a guarda de sua viúva, Adélia Boskov Dicke, com quem se casou aos 26 anos. Com Deus de Caim, segundo Nelly Novaes Coelho, professora da USP e crítica literária, Guilherme Dicke deu início "à grande obra que realizou durante toda a sua vida".
 
Tomara que, com a volta do romance às livrarias, outros livros seus sejam reeditados. Vontade é que não falta a Nicodemos Sena, da Letra Selvagem, para quem, ler Dicke "é como recuperar algo esquecido, não apenas por nós, que já o conhecíamos, mas por toda uma geração ou por toda a civilização a que pertencemos". Na época em que foi um dos vencedores do Walmap, Guimarães Rosa, entusiasmado, o saudou "como um romancista tipo novo, um homem capaz de abalar a nossa ficção".
 
Mito bíblico - Romance de densidade extraordinária, desses que são capazes de mexer com os nervos do leitor mais exigente, em Deus de Caim, ao contar a história de dois irmãos gêmeos, Jônatas e Lázaro, que são apaixonados por uma moça chamada Mirina, o autor nos remete, com mãos de mestre, ao mito bíblico de Abel e Caim. Como na imaginária Yoknapatawpha, de William Faulkner, a história de Dicke se passa na também inventada Pasmoso, cidadezinha situada em um lugar qualquer do interior de Mato Grosso, onde se desenrola uma trama que, quase sem que percebamos, vai nos levando a um mundo dominado pelo ódio, preconceitos e incompreensão. É como se não existisse, naquele universo sombrio, nenhuma chance de redenção.
 
Ao escrever um ensaio sobre o romance, o escritor e crítico literário Ronaldo Cagiano, que é um dos leitores mais entusiasmados de Ricardo Guilherme Dicke, afirmou que, "nos 21 capítulos da obra, a história da família Amarante vai se desdobrando numa colcha de retalhos de situações conflituosas, que metaforizam a própria história do Brasil". Nunca é demais lembrar que quando Deus de Caim foi lançado, em 1968, o país atravessavaum dos momentos mais delicados da ditadura militar, que havia sido implantada quatro anos antes e cujos reflexos, é bem provável, tenham deixado vestígios no romance. Tanto que Juliano Moreno Kersul de Carvalho afirma, no prefácio da segunda edição do livro, que sua publicação, justo em 1968, "foi um verdadeiro ato de coragem e de contraposição ao provincianismo das letras mato-grossenses do período". Talvez seja devido a isso que até hoje, na sua terra, Ricardo Dicke continua praticamente desconhecido.
 
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*Carlos Herculano Lopes é um dos grandes escritores mineiros da atualidade; autor, entre outros, de O último conhaque (romance)

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