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Críticas

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Dos quadrinhos para a cidade fantasma
Página publicada em: 03/11/2009
Nilza Amaral*
A ternura e a melancolia dos códigos negros que caminham pelas páginas brancas, outrora virgens, do "Tratado dos Anjos Afogados", de Marcelo Ariel
Assim como falham as palavras quando querem exprimir
qualquer pensamento, assim falham os pensamentos
quando querem exprimir qualquer realidade
(A.C.)
 
A afirmação acima de um dos heterônimos de Fernando Pessoa, talvez tenha a ver com o poeta Ariel, autor do recém-lançado Tratado dos Anjos Afogados (Ed. LetraSelvagem, 216 pág, 2008).
 
Seus versos são gritos de guerra de um guerreiro, cujas únicas armas são as palavras, que podem ser flechas certeiras a alcançar o alvo na ferida aberta pelo inimigo, ou podem ser seres alados que sobrevoam os campos de luta, ou ainda, os dentes do dragão que trituram as injustiças.
 
Seu alvo é a realidade, que suplanta qualquer ficção... As palavras são armas mortais e Ariel sabe bem disso. Ele usa as flechas certeiras que chegam ao coração do leitor. Todo o seu livro é um libelo ardente contra a infâmia de quem governa uma cidade. Uma cidade sem chance de dar uma vida sadia aos seus habitantes, uma cidade destruída pela usurpação do meio ambiente por indústrias poluidoras. Uma cidade que será lembrada pela memória das crianças inocentes condenadas à morte antes mesmo de seu nascimento - a cidade dos anjos afogados.
 
Somente um  poeta como Ariel teria o poder de expressão necessário para escrever esse Tratado. Somente ele alimentaria a sensibilidade necessária para traduzir a tristeza revoltada em seus versos e transmitir aos leitores, que fatalmente não serão os mesmos de antes da leitura. E não é essa a finalidade da palavra? A  de transformar mentes? A de fazer enxergar nas entrelinhas de um poema a verdade que não se quer ver?
 
Que espantalho seria mais impressionante do que o Espantalho de Ariel?
 
No meio do lixão/visão do alto/uma calça e uma camisa/São a evocação do corpo/de um homem/sem sapatos/suas mãos/dois urubus rasgando um saco/sua cabeça/um rato 
 
Ariel não é o Poeta. Ele é personagem que percorre as páginas do livro como andante impotente de um apocalipse imposto. Somos tocados por suas palavras e nos sentimos tão impotentes quanto o Poeta sofrido. Vivemos naquelas ruas, naqueles cantos, nos esconderijos impostos, enquanto estivermos mergulhados no universo do Tratado dos afogados. É um tratado sem solução, onde as tratativas lutam contra um tempo apoderado  por mutantes indefesos.
 
Não posso comparar Ariel a Don Quixote, que lutava contra exércitos imaginários, ou igualar o Poeta ao louco cujos delírios geram seu mundo; não, Ariel trabalha com a  realidade de um povo. A realidade de Ariel é a nossa realidade e sua prosa poética, a tocha que ilumina esse caminho de trevas que foi fabricado por seres que não são de papel, mas de carne, ossos, sangue e dor. Talvez Ariel possa ser comparado a um super-herói que saltou dos quadrinhos para a cidade fantasma. “Enquanto nós as ficções-vidas manipulamos um cubo de trevas dentro do não”.
Ao contrário de Maiakokovisk “...E porque não dissemos nada/já não podemos fazer nada.”, Ariel fala e grita, acusa e sofre, condena e culpa.
 
Se Dante descreveu o inferno, Ariel viveu o inferno e portanto tem mais autoridade para falar dele. Shakespeare afirmou Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. É o caso de Ariel. Ele sente. Ele denuncia. Ele compara. Ele sofre. Keats nos diz que “a thing of beauty is a joy forever”. Marcelo Ariel nos diz: “Doce é o sangue da luz desenhando um rosto em volta de um Crânio vazio”.
 
Leiam Ariel, sintam as ranhuras das unhas afiadas do torturador invisível em sua pele sensível, preencham as lacunas com o recheio da dor e o sangue das crianças. Mas percebam o quanto de ternura e melancolia existe nesses códigos negros que caminham por essas páginas brancas, outrora virgens.
 
__________
*Nilza Amaral, ficcionista brasileira, autora, entre outros, de O Florista

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Autores Selvagens

Autor

» João Batista de Andrade

Nasceu na cidade mineira de Ituiutaba, em 1939, e vivenciou complexos momentos da recente história do Brasil, como o período da Ditadura Militar (1964-1985). Premiado e aclamado como cineasta, sempre alimentou entranhada relação com a literatura, que se manifesta em sua filmografia, quer na urdidura dos roteiros, quer na transposição para as telas de obras literárias, como os romances "Doramundo" (Geraldo Ferraz), "Veias e Vinhos" (Miguel Jorge) e "O Tronco" (Bernardo Élis). Enquanto colhe louros como cineasta, vai publicando os seus livros, sete até este momento (o último intitula-se "Confinados: memórias de um tempo sem saídas").

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