Nicodemos Sena é um cidadão raro no universo de picaretagem em que conseguimos sobreviver, com muito esforço, luta e sacrifício, principalmente na área que escolheu (escolhemos) para atuar. Aprovado no rigoroso teste de escrever livros, quando residente no Norte do país, decidiu descer no mapa.

 

Instalado com muita perseverança, sonhos e força de vontade, ingressou na área editorial, lançando a editora LetraSelvagem, em Taubaté, SP, em 2007. Trata-se de um selo já inserido no patrimônio da Associação Cultural LetraSelvagem, sem fins lucrativos.

 

Nicodemos explica que se trata de uma ONG sui generis, pois há cláusula contratual que veda qualquer ajuda do erário. Dinheiro de governo não entra. E o escritor/editor vai mais longe: “É uma sociedade civil que visa reforçar a cidadania em contraposição ao Poder aliciador e corruptor do Estado e às forças impositivas do mercado”.
 
E há mais: “Pretende agregar e dar visibilidade aos que não entraram ou foram excluídos do jogo. Procura resgatar antigos valores, numa sociedade dominada pelo dinheiro. Não tem sócios, nem donos, pois não visa lucro”.
 
Poderia ser um belo projeto sem futuro, mas não é, inclusive pelos títulos já oferecidos ao leitor. Assim, já em 2008, Anima animalis – Voz de bichos brasileiros, de Olga Savary, conquistou o Prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), como o “melhor livro de poesia editado no Brasil” naquele ano.
 
Não se ficou nisso: Escritores Brasileiros do Século XX – Um Testamento Crítico, com 976 páginas, da professora Nelly Novaes Coelho, foi incluído entre os finalistas do Prêmio Jabuti/2014, na categoria Teoria/Crítica Literária. No dia 12 de novembro, na Casa das Rosas, em São Paulo, a editora patrocinou um tríplice lançamento: de Os Ventos Gemedores, um romance de Cyro de Matos; Uma Garça no Asfalto, de Clauder Arcanjo, crônica, Rainhas da Antiguidade: Sedução e Majestade, biografia, de Dirce Lorimier Fernandes.
 
O próprio Nicodemos argumenta: “A intenção é promover o gosto pela leitura e resgatar autores e livros de alto nível literário, mas que, por motivos extraliterários, entraram no esquecimento".

 

A valorização da literatura de boa qualidade se estende a autores e livros de outros países da América Latina, e mesmo da África. Entre estes, por exemplo, A Maldição de Ondina, do português–moçambicano Antônio Cabrita, já editado e aqui comentado, e que efetivamente merece leitura. Entre os demais estrangeiros, estão programados Os de baixo, do mexicano Mariano Azuela, e Sombras sobre a terra, do uruguaio Francisco Espínola.
 
A editora banca inteiramente as edições, pois não quer ser um caça-níquel ou explorar autores incautos. Não se dispõe a ser chamada para negócios escusos, mas para seus propósitos – tem de depurar os critérios na aceitação dos textos, e não errar na escolha. O projeto tem objetivo certo e o número de exemplares vai aumentar.

 

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